sexta-feira, 30 de abril de 2010

CORALINE




Coraline por Lívia Cerveira*

Animação produzida em 2009, baseada na obra literária de Neil Gaiman, Coraline oferece um mundo de efeitos e cores que camuflam uma trama sombria. Exibida nos cinemas através da tecnologia de imagem 3D, a visão que temos do mundo de Coraline proporcionada por Henry Selick ganha ainda mais riqueza e permite ao espectador uma experiência quase tátil.

Coraline é um filme de animação que utiliza a técnica do Stop-Motion. O filme teve uma ótima recepção pelo público e foi nomeado ao Oscar em 2009.

O diretor e os caminhos que levariam a Coraline

Em um filme de animação, existem diversas pessoas que trabalham em equipe para a construção de um universo inteiramente ficcional. Mas existe uma pessoa apenas que conduz todo o trabalho. Em Coraline, esse nome é Henry Selick.

Selick, que trabalha basicamente com animação em stop-motion, é conhecido por seus trabalhos como “James e o Pêssego Gigante” (1996) e “O estranho mundo de Jack” (1993), projeto realizado junto a Tim Burton, a quem este segundo trabalho é geralmente associado.

De fato, a concepção de “O estranho mundo de Jack” se deve a Burton, mas somente quando Burton trouxe Selick para sua equipe o filme tomou as formas que ganhariam o mundo e seus espectadores.

Selick começou como membro do Programa de Design de Personagens de Animação da Disney, participando de filmes como “Pete’s Dragon” (1977) e “The Small One” (1977). Em 1979, Selick tira uma licença e passa a se dedicar nesse período a diversos projetos pessoais, dentre eles o curta “Seepage”, que tornou-se um sucesso de crítica e premiações. Nesse filme, Selick já trabalha com Stop-Motion. Em seu retorno à Disney, Selick imediatamente integrou a equipe da animação “O cão e a raposa”, para em seguida abandonar definitivamente a Disney com o intuito de investir em seus próprios projetos.

No final da década de 80, Selick já tinha sua própria companhia, a Selick Projects com a qual ele realizou diversos trabalhos voltados para área de publicidade e propaganda. Alguns de seus projetos ficaram famosos e foram premiados, como os comerciais para a marca Ritz Crackers, mas seu trabalho mais famoso nesse período foi feito para a MTV. Apesar da popularidade desses trabalhos, Selick não deixou de investir em projetos de cunho mais pessoal e em 1990 ele roteiriza, dirige e produz o filme “Slow Bob in the Lower Dimensions”. O filme, um curta de seis minutos, surpreendeu pelo uso de suas técnicas e ganhou diversos prêmios importantes, mas, principalmente, foi o que aproximou Burton e Selick.

Os dois na verdade haviam se conhecido na CalArts, onde ambos foram estudantes e onde Selick pela primeira vez trabalhou ao lado de Burton em curtas como “Phases” e “Tube Tales”. Anos mais tarde, quando teve a oportunidade de retomar seu projeto junto à Disney, Burton enxergou em Selick a única verdadeira possibilidade de que “O Estranho Mundo de Jack” viesse ao mundo conforme sua idealização.

Selick encara o projeto como uma oportunidade única de trabalhar a animação em stop motion de uma forma completamente nova. Para tanto, ele reúne uma equipe, a Skellington Productions e recebe quinze milhões de dólares como orçamento. Durante a produção, apesar de não dirigir, Burton trabalha diretamente junto com Selick na produção do filme.

A produção de “O estranho Mundo de Jack” teve proporções gigantescas. Ocupando um espaço imenso com dúzias de sets de filmagens e cenários que deveriam ser especificamente construídos para cada cena, cada construção foi feita sob medida para a realização do projeto, não apenas sob aspectos artísticos, mas também técnicos. Para capturar cada movimento, Selick utilizou uma câmera de 35mm. A produção do filme levou ainda dois anos, após o estágio de preparação e em 1993, o filme foi finalmente lançado. “O Estranho Mundo de Jack” obteve um imenso sucesso e muitos se surpreenderam quando na leitura dos créditos identificaram um outro responsável que não o Tim Burton.

Diante do sucesso de “O estranho Mundo de Jack”, Selick ganhou sinal verde junto a Disney para a produção da adaptação da obra de Roald Dahl, “James e o Pêssego gigante”. A produção desse filme não foi menos complicada, e devido a questões financeiras o filme é realizado utilizando stop motion em sua maior parte, mas não somente. Apesar de obter resultados surpreendentes em determinados momentos e de ser uma obra belíssima, o filme não obteve o sucesso esperado. No entanto, ainda que não tenha recebido o devido reconhecimento, o filme fez de Selick uma referência no mundo da animação em stop motion.

Após “James e o Pêssego gigante”, Selick trabalhou em alguns projetos menores e posteriormente no filme ‘Monkeybone”, no qual seu personagem principal ganha a vida como um boneco de stop motion. O filme não foi um sucesso de bilheteria também, mas como todos os trabalhos de Selick chamou a atenção pelas suas técnicas e inovações.

Em uma de suas produções mais recentes, Coraline, Selick novamente encontra seus espectadores utilizando Stop Motion e dessa vez, ganhando o reconhecimento mais do que merecido de seu público e crítica.

Coraline - A história

A animação é baseada no livro escrito por Neil Gaiman, cujo público alvo não é o infantil.

Filha única, Coraline é uma menina curiosa e cheia de vida que acaba de mudar com seus pais para uma enorme casa desprovida de qualquer atrativo para uma criança de sua idade. Seus pais, ambos escritores, pouco tempo ou interesse dedicam à menina, absorvidos pelos seus respectivos trabalhos. É assim que, para afugentar o tédio, Coraline começa a explorar a casa que denominada “Palácio Cor-de-Rosa”. Em sua exploração Coraline se depara com um pequena porta que posteriormente à levará para um outro mundo no qual ela encontra uma segunda versão de sua mãe e de seu pai. A principio, o novo mundo é mais belo e colorido, repleto de tudo o que Coraline poderia desejar: comidas gostosas, flores e brinquedos, novos amigos e aventuras. E principalmente, pais que estão a sua inteira disposição. Mas logo Coraline descobre que nem tudo é o que parece, e que sua Outra Mãe esconde um passado e intenções mais do que sinistras.

O mundo de Coraline construído pela narrativa de Gaiman remonta a uma história sombria e intrigante, mas é quando Selick o leva às telas que entendemos que nem todo conto de fadas é apenas para crianças. Coraline certamente não é a atmosfera mais indicada ao público infantil, o que não o categoriza como um filme menos interessante por isso. Pelo contrário.

A Construção do Mundo de Coraline

Para a realização de “Coraline”, Selick reuniu uma equipe de 450 pessoas. Sua produção foi estabelecida em um terreno de 13.000 m² divididos em 50 lotes nos quais foram construídos 150 sets. A produção de “Coraline” se estendeu por cerca de três anos e em sua finalização havia custado aproximadamente R$ 70 milhões.

Impressões

Coraline é uma animação, mas nada em sua história faz dela infantil. Ou quase nada. Os cenários podem parecer um parque de diversões para crianças. Casinhas de bonecas e os próprios bonecos e seus movimentos tão reais, são de fato irresistíveis independentemente da idade de seu público. Mas a história que está sendo contada certamente não é um passeio no parque. Um conto de fadas e como os sãos os bons, a impressão que temos é que não se trata de uma história para crianças.

Esteticamente, Coraline é a todo momento um festival de movimento, textura e cores. O fato de ter sido filmado em 3D apenas proporciona a profundidade do que nos é revelado cena após cena. E interessante perceber que o mundo real de Coraline é feio e obscuro enquanto o mundo criado para suprir seus desejos mais íntimos é cheio de cores e beleza. Algo não tão diferente do que vivenciamos afinal.

Referências:
EDELSTEIN, D. New York Movies – Nymag. Disponível em: <> http://nymag.com/movies/reviews/53785/ . > Acessado em: 10 de Abril de 2010
McNICHOL, T. Porland Monthly. Disponível em <> http://www.portlandmonthlymag.com/issues/current-issue/articles/0209-knights/. > Acessado em: 06 de Abril de 2010.

* Lívia Cerveira é estudante do 7 Periodo do curso de Cinema e Video da UNA.

Nenhum comentário: