sexta-feira, 16 de abril de 2010

Winsor McCay




Winsor MacCay por Bárbara Cherubini de Souza*

Winsor McCay nasceu em 1867, provavelmente no Canadá. Foi criado em Michigan, onde desde uma idade precoce, começou a desenhar prodigiosamente. Aos 13 anos ele desenhou uma figura de naufrágio na lousa da escola, que foi fotografada e teve cópias vendidas. Sua atenção e memória para detalhes eram surpreendentes.

Apesar de seu talento, sua família não o encorajou a seguir o caminho das artes, mandando-o aos 19 anos a uma Escola de Comércio para aprender uma “profissão de verdade”. Mas McCay logo largou a escola e se distanciou de sua família.

Seu primeiro trabalho como desenhista foi em Detroit em um Dime Museum , que eram centros de entretenimento e educação moral para a classe trabalhadora, muitos deles imigrantes. Lá ele desenhava retratos de pessoas por 25 centavos, e foi lá que começou a atrair um grande público e pôde fazer algumas aulas de desenho com um professor local.

McCay deixou Michigan para ir à Chicago em 1889, onde trabalhou com o artista Jules Guerin. Em 1891 se mudou para Cincinnati, onde se estabeleceu trabalhando como artista pessoal para um Dime Museum local. Casou-se, teve dois filhos, e começou a fazer desenhos para um jornal local. Foi aí que desenvolveu suas habilidades com a caneta, pois até então tudo havia sido criado com lápis e pincel. Além disso, ele completou sua renda através da apresentação de desenhos para a revista Life em 1899.

A partir da base proporcionada por Emile Cohl, McCay era a garantia da continuidade do desenvolvimento da animação. Seu talento já estava mais do que comprovado, além de possuir uma percepção da dimensão artística da animação. E foi essa capacidade que permitiu a construção e manipulação plástica no desenho de uma maneira aparentemente impossível, devido a uma tecnologia até então primitiva.

Ao contrário de Cohl que simplificou seus desenhos para que fosse conveniente à produção de várias imagens, McCay foi ousado, transpondo para a tela seu sofisticado estilo gráfico já reconhecido em suas histórias em quadrinhos, em que desenhava sem comprometer seu complexo design.

Nesses quadrinhos era possível notar seu espírito inovador. Sua concepção fantasiosa era altamente original, distinta das ilustrações visionárias anteriores. Sua configuração é rica, mesmo com seus traços econômicos e estáveis, estabelecendo um equilíbrio em sua arte. Ele possuía total controle sobre seus recursos, o que é essencial para que venha à tona sua qualidade e marca pessoal, que particulariza uma forma e a transforma em arte.

McCay não parou de criar novas personagens e quadrinhos, mas foi em 1911 que ele eternizou seu nome e revolucionou a história em quadrinhos. Devido à sua habilidade em simular movimentos naturais, seu primeiro filme Little Nemo fez o público perceber que a animação era uma arte com características próprias, composta por desenhos que rapidamente iam definindo sua linguagem.

As tiras eram sobre um pequeno garoto, Nemo, que viajava pelo mundo dos sonhos, sempre acordando no final da página encerrando sua aventura. O visual de Nemo foi baseado em Robert, filho de McCay. A popularidade de Little Nemo cresceu rapidamente e logo o personagem passou a endossar outros produtos, como roupas, brinquedos, cartões postais, livros e jogos. Em 1908, Victor Herbert escreveu uma peça de teatro apresentada na Broadway com Nemo como protagonista.

A habilidade de McCay com os movimentos é resultado de sua aguçada percepção e análise dos movimentos humanos e animais, além de seu talento como desenhista, afinal, apesar de mirar-se na realidade, os movimentos eram abstratos, servindo ao interesse expressivo da personagem.

McCay se valeu dos mesmos recursos técnicos (tinta nanquim em papel de arroz) que haviam atingido sua melhor condição com Emile Cohl, o que prova que toda evolução no seu trabalho é de ordem meramente artística. Ele faz uso de elementos formais e códigos visuais explorados por Cohl, como metamorfoses ou linhas que se movem aleatoriamente para se misturar e dar origem a figuras completas, porém vai além na experimentação de conceitos fundamentais para a animação, tanto que chega a tocar em aspectos mais avançados, como a aplicação das características de personalidades. Além disso, para mostrar a eficácia dos movimentos, valeu-se bastante do sistema de flipagem, também conhecido como livro mágico, usando um modelo maior do mutoscópio, que tirava melhor proveito da flipagem, e um cronômetro.

Em 1914 McCay se supera criando Gertie the Dinosaur, considerado o primeiro grande marco da história da animação. Para criar o filme, McCay arrastou milhares de frames de Gertie em cada 6,5 x 8,5 polegadas de folhas de papel de arroz. Ele contratou seu vizinho e estudante de arte John A. Fitzsimmons para desenhar os cenários. Fitzsimmons cuidadosamente re-traçou as rochas, o lago e a árvore em cada folha de papel de arroz. Esse cenário estático foi redesenhado mais de cinco mil vezes, mas foi nesse filme que todas as conquistas de McCay são incorporadas, e é quando surgem vários dos princípios da animação que mais tarde se tornariam padrões nessa indústria.

McCay dedicou sua vida a desenhar e faleceu em 1934. Suas habilidades, seu cuidado com os detalhes, sua noção de espaço, tempo e design de páginas marcaram toda uma geração de criadores de quadrinhos. Um ótimo exemplo é o sucesso de Gertie, que se mostrou tão popular que gerou falsificações, mas por outro lado impressionou dezenas de jovens artistas que se decidiram pela animação e deram continuidade ao seu desenvolvimento, como Walter Lantz (criador do Pica-Pau), Dave Fleischer (criador de Koko o palhaço, e inventor da rotoscopia) e Dick Huemer (um dos mestres que forjou a fama dos Estúdios Disney).

Tamanha é a importância de McCay que no ano de 1972 foi criado o prêmio Winsor McCay Award, que se destaca como uma das mais altas honras dadas a um indivíduo na indústria da animação, em reconhecimento às contribuições para carreira da animação. Vários artistas como os Irmãos Fleischer, Walter Lanz, Tex Avery, Chuck Jones, Otto Messmer, o próprio McCay, entre tantos outros já receberam o prêmio. Em 2009 os vecedores do prêmio foram Tim Burton, Bruce Timm e Jeffrey Katzenberg.

Bárbara Cherubini de Souza, 19 anos, estudante do 1 Periodo de Cinema e Video da UNA

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