domingo, 24 de junho de 2012

Michael Dudok De Wit

* por Natália Bellieny


 Uma das qualidades mais admiradas em um animador é a de conseguir criar, em seus filmes, histórias simples, porém belas. E essa é, com certeza, uma das qualidades que tornam o holandês Michael Dudok De Wit um dos maiores nomes da animação mundial.

   Com apenas quatro curtas-metragens produzidos, Dudok De Wit já consegue impressionar vários fãs de animação e até mesmo grandes profissionais da área. A genialidade na forma como conta, de forma metafórica, a trajetória espiritual em busca da transcendência do material mostra sua paixão pelos temas religiosos. Além disso, o humor e o ritmo presente em seus filmes são outros dois de seus pontos fortes, que acabam por divertir públicos de todas as idades.

   Sem dúvidas, uma das características mais marcantes de seus curtas é a simplicidade de seus traços, que trazem á vida personagens cativantes que mergulham o telespectador em cenários e cores amenas. Ele prova que, mesmo na era digital, ainda há uma beleza insubstituível nas animações tradicionais.

   Seu filme mais conhecido é “Father and Daughter”, que conta a linda historia de uma menina que vê seu pai pela última vez atravessando um rio em um pequeno barco. Após esse acontecimento, a garota freqüentemente retorna, de bicicleta, á margem do rio á espera do retorno de seu pai. A passagem do tempo, e também das fases da vida da garota, prendem a atenção do espectador mais e mais a cada minuto e, por fim, acaba por emocionar até mesmo aos menos sentimentais.

   Pintado á tinta, como seus outros trabalhos, “The Monk and the Fish” e “Tom Sweep”, “Father and Daughter” foi a animação que rendeu mais prêmios ao holandês (incluindo o Oscar de curta animado do ano de 2001). O sucesso do curta foi uma surpresa para o próprio De Wit. Ele afirmou que não imaginava que um filme tão sério pudesse ter mais ibope do que seus curtas mais cômicos e dinâmicos.

   Dudok De Wit também é a mente por trás do comercial “A Life”, da linha aérea United Airlines. Uma bela animação, com algumas características que se assemelham ao seu trabalho mais premiado. Também fez comerciais para a Nestlé, Volkswagen, e varias outras empresas.

   O nome de Michael Dudok De Wit, mesmo com poucos trabalhos, já está marcado, para muitos, como o de um dos maiores animadores vivos. Agora é esperar para ver que outras surpresas ele ainda nos trará.







Bibliografia:




* Natália Bielliny é aluna do segundo periodo do curso de Cinema e Video da Una

terça-feira, 19 de junho de 2012

Chris Cunningham - All is Full of Love - Björk

* por Andrew Oliveira (Black Cherry)




 Um robô é uma criatura inorgânica, ausente de sentimentos, gestos involuntários, vazio e gelado, movido por engrenagens lubrificadas com óleo, moldado a partir da matéria prima de metais, pesado, perigoso. Uma imitação do ser humano, um manequim mais forte e rígido, uma bizarrice bela da tecnologia, uma representação de atitudes humanas e, sendo assim, de um grande significado imagético, um robô é uma máquina criada apenas para determinada função, e sendo assim ele deve fazê-la repetidamente sem a interrupção do chamado "cansaço humano", sua inteligência é mecânica e limitada, nascida de cabos elétricos e chips, perfeita para acelerar a produção de mais máquinas, mais inteligências iguais, um rebanho de ferro e parafusos criando exércitos das mesmas coisas fazendo as mesmas operações criadas das mesmas funções.

Talvez seja importante, então, a ausência de sentimentos, a frieza e, de certa forma, a crueldade em ser um boneco verossímil do corpo humano. Um robô não tem músculos, artérias, ligamentos cartilaginosos, pele e sangue. Mas ele tem uma força maior, um desenvolvimento indestrutível, é mais eficaz e menos fálico, uma disposição que os limites humanos não permitem. É verdade que um robô uma hora começa a apresentar problemas, e rapidamente pode se quebrar, sua bateria acabar, seus cabos arrebentarem, mas tão velozmente quanto ele é destruído, ele é substituído por um novo, um modelo mais avançado, com mais funções, com menos probabilidades de sua data de validade se aproximar. Um robô é um reflexo de uma criatura colossal e faminta, cheia de tentáculos venenosos, barulhenta e aterradora, chamada Ego.

Seria completamente impossível então, duas criaturas com os mesmos mecanismos, o mesmo pensamento pré-determinado, a mesma forma e compartilhando da mesma consciência imitada, se amarem? Sentirem o toque de suas entranhas frias, partilhando de gestos incompreendidos, se oferecerem, se entregarem?

Chris Cunningham obviamente, não deixa claro se o tempo que vemos passar é cronológico ou psicológico, se suas duas personagens, as duas Björk's robóticas e melancólicas, podem ser a representação de uma sátira às condutas humanas, aos seus limites e valores de impor definições a sentimentos que eles próprios, os seres humanos, não entendem.

Somos convidados a entrar numa clínica para reparos de robôs defeituosos, vemos e ouvimos a robô cantar sobre o amor, declarar os sentimentos de outrem que se fechou com o medo da mais simples permissão de amar. Para quem ele canta? Alí há apenas ele e grandes parafuseiras terminando de moldá-lo, fazendo seus últimos reparos. O que aconteceu com um robô que canta sobre o amor estar alí precisando de manutenção? Algo nele não deu certo?

As cenas movem-se então como se estivessem voltando, a lubrificação, a água, retorna. A água nunca retorna, ela segue seu rumo e encontra caminhos até mesmo entre rochas e colinas, na terra e no fogo, já disseram provérbios chineses. A água é a metáfora perfeita do tempo, o tempo cronológico é claro, pois quem pode controlar o psicológico? É estranho pois passamos a entender que, em vez de estar sofrendo reparos, o robô está sendo destruído pelas máquinas de manutenção, aquelas que até então tinham a função apenas de renovar e construir. Mas o outro robô, idêntico ao primeiro, entra em cena, ele o convida, ele canta junto, e como o seu parceiro, possui seios artificiais para identificar seu sexo. Duas robôs que se comunicam, veem algo em comum, elas não estão sendo renovadas, estão sendo desconstruídas, pois muito provavelmente estão ultrapassadas ou suas datas de válidade já chegaram.

Há então uma explosão de mensagens num único gesto, a robô a convida para sair daquele lugar, e juntas impulsionam a maior forma física de amar: o beijo. Elas não veem diferenças, são iguais, e quando há o amor surgindo, quem terá o direito de julgar sexo, gênero ou cor? Elas precisam daquilo, elas estão sendo extintas, estão sendo assassinadas lentamente pelas máquinas que não permitem que robôs tenham sentimentos, se declarem, se comuniquem e, acima de tudo, sejam humanos. Estão sendo oprimidas pelos seus iguais, pois elas também são máquinas, há uma anarquia imposta pelas ditadoras mais fortes e soberanas naquela sociedade, as que constróem e destróem e, por isso, tem a consciência de que podem fazer o que lhes for conveniente. Afinal, as máquinas opressoras também tem sentimentos, porque elas não estão permitindo, elas estão sendo hipócritas e contraditórias com suas crenças de que duas robôs idênticas não podem amar.

Uma contradição, obviamente, ainda maior e mais forte presente no curta, é a ironia extrema de dois robôs amando, levando-nos às vertentes das críticas sociais sobre a frieza humana, os estereótipos, o conformismo em ser igual, em não fazer tanto quanto deveria, apenas seguir aquilo a que lhe foi designado. A fotografia final nos faz captar que as duas robôs apaixonadas estão no meio de um coração, formado pelos braços violentos das máquinas opressoras que estão destruindo-nas enquanto estas usufruem dos seus últimos momentos antes de suas células de bateria acabarem. Uma ironia ainda maior, é claro, pois aquilo que as destrói, é aquilo que forma o que elas acreditam terem: o órgão representativo do amor, o mais vital e protegido na caixa torácica, a queda livre, a pulsação mais forte, o calor mais intenso, a dor mais impiedosa: o coração.

"Você receberá amor,
Deixe-se receber os cuidados,
Você receberá amor
Permita-se confiar nisso
Talvez não das fontes
Em que derramastes
Talvez não das direções
Em que ainda observas
Mova sua cabeça
Está tudo ao seu redor
Tudo está cheio de amor
Tudo ao seu redor
Tudo está cheio de amor
Você apenas não está recebendo
Tudo está cheio de amor
Seu telefone está fora do gancho
Tudo está cheio de amor
Suas portas estão todas fechadas..."

Permita-se confiar nisso.

Chris Cunningham é um diretor de cinema britânico de videoclipe e video-arte. Ele nasceu em Reading, Berkshire, em 1970, e cresceu em Lakenheath, Suffolk. Além de cineasta, é músico, produtor e fotógrafo. Responsável por um dos videos mais emblemáticos de todos os tempos, Cunningham já trabalhou com grandes nomes como Madonna e Björk, além de artistas mais alternativos e reconhecidos no cenário underground da música como Aphex Twin e Portishead.

Björk é uma cantora islandesa, compositora e produtora musical. Nascida em Reikjavík, em meados de 1964, Björk é uma das maiores artistas femininas da história da música, sua contribuição para a arte é unânime e referência para gerações de cantores indies, folks e electronicos. Reconhecida por inovar e mudar drásticamente de estilos a cada álbum, sua discografia é uma viagem a um mundo alienígena, ininterrupto e emocionante, e há aqueles que dizem ainda que não há um gênero específico para designá-la, a não ser "música Björkiana".
* Andrew Oliveira (Black Cherry) é aluno do primeiro periodo de cinema e video da UNA - Belo Horizonte e escreve regularmente em seu blog http://www.soldeandrew.blogspot.com.br/

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Marcos Magalhães e o premiado “Meow!”



por Francisco Barbosa Pacheco de Souza*
O cinema de animação com suas diferentes técnicas materializam a imaginação e tem a função de “dar alma ou energia vital” (Dicionário Aurélio, 2009) a realidades fantásticas que caracterizam o cinema. No Brasil, a iniciativa de tornar possível um cinema de animação nacional, tendo em vista a produção industrial do cinema como um todo pelo mundo, gerou a formação de vários nomes representativos que impulsionaram e ainda impulsionam a atividade dos animadores no país. Um deles é Marcos Magalhães que possui domínio das várias técnicas da animação para a produção de seus filmes.
2 MARCOS MAGALHÃES: TRAJETÓRIA COMO ANIMADOR
           
            Nascido no Rio de Janeiro em 1958, Marcos Magalhães formou-se em Arquitetura pela Universidade Federal de Rio de Janeiro e fez mestrado em Design na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Na década de 1970, produziu alguns filmes em super-8. Em 1982, recebeu o prêmio especial do júri no Festival de Cannes com o curta-metragem “Meow!”. E em 1983 quando estagiou na National Film Board of Canada, fez o curta “Animando” que também recebeu prêmios no Brasil.
            De volta ao Brasil, ainda na década de 1980, Marcos Magalhães participou da criação do Núcleo de Cinema de Animação do Centro Técnico Audiovisual (CTAv) durante um acordo do Brasil com o Canadá que durou dois anos, mas que resultou na criação dos núcleos de animação no Ceará, no Rio Grande do Sul e em Minas Gerais.
No início da década de 1990, com César Coelho, Aida Queiroz e Léa Zagury, ele iniciou a realização do Festival Internacional de Aimação, Anima Mundi. Esse festival trouxe uma nova e otimista visão para os animadores do país. Além disso, tornou-se uma referência nacional e internacional impulsionando e divulgado jovens animadores.
Atualmente, Marcos Magalhães continua na direção do festival Anima Mundi, é professor de cinema de animação no curso de Design e coordena a pós-graduação em animação, ambos na PUC-Rio.
Sua filmografia contém “A semente” (1974), “A pílula” (1975), “Cinco sentidos” (1976), “Meow!” (1982), “Animando” (1983), “Estrela de oito pontas” (1996), “Pai Francisco entrou na roda” (1997), “Dois” (1999­­­) e “Homem estátua” (2007), entre outros.
3 “MEOW!”: A CRÍTICA AO SISTEMA ATRVÉS DA TÉCNICA DA ANIMAÇÃO
           
            Tema recorrente em discussões, o consumismo na década de 1970 e 1980 é criticado pelos intelectuais e ativistas tendo como base a avassaladora publicidade que as mídias divulgavam às massas durante o processo de evolução das tecnologias midiáticas. Diz-se que, a partir daí, o consumidor passou a absorver as ideologias impregnadas nas propagandas alterando, assim, seu comportamento diante das ofertas de bens de consumo. Junte-se a isso, o consumismo desenfreado e perda de identidade (IANNI, 1997).
            Nesse contexto, surge o curta-metragem “Meow!” que evoca a opressão da publicidade sobre os valores da pessoa. Isso é representado através do gato faminto, em cima de um muro, que é forçado a deixar de beber leite, que lhe é comum, para passar a tomar um refrigerante de determinada marca. O gato está em uma cidade marcada pela propaganda em outdoors e letreiros luminosos.
            Para contar isso, Marcos Magalhães usou o stop-motion e filmou todo o curta em um tipo de plano-sequência na bitola 35mm. O curta tem duração de oito minutos acompanhados por trilha original.
“Meow!” recebeu os prêmios de Melhor filme na categoria Júri popular e melhor roteiro no Festival de Brasília em 1981, Terceiro lugar em Animação no Festival de Havana em 1982 e Prêmio Especial do Júri no Festival Internacional de Cannes em 1982.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O domínio do capitalismo (e da globalização) torna o curta-metragem de Marcos Magalhães atual para reflexões a esse respeito mesmo com trinta anos desde seu lançamento. O que indica que os animadores não estão distanciados das discussões sobre as características de sua realidade e que podem influenciar na observação e apreensão dos conceitos e valores da sociedade.
5 REFERÊNCIAS
IANNI, Octavio. A política mudou de lugar. São Paulo em perspectiva, São Paulo, v. 3, n. 11, p. 3-7, 1997, Disponível em: https://www.seade.gov.br/produtos/spp/v11n03/v11n03_01.pdf. Acesso em 27 mar. 2012.

MINIAURÉLIO ELETRÔNICO VERSÃO 5.12. Ed 7. Editora Positivo Ltda, 2009

6 FONTES
http://www.youtube.com/watch?v=q6p1XNokmVk>.  Acesso em 27 mar. 2012
* Francisco Barbosa Pacheco de Souza é aluno do primeiro periodo do curso de cinema e Video da UNA.

terça-feira, 12 de junho de 2012

EL EMPLEO



* Rafael de Almeida Campos
Objeto pulsante, mas objeto
Que se oferece como signo dos outros
Objetos estáticos, tarifados.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
De ser não eu, mas artigo industrial,
Peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é Coisa.
Eu sou a Coisa, coisamente.
Eu, etiqueta -
Carlos Drummond de Andrade

Santiago Grasso é desenhista, ilustrador e animador, formado pela Faculdade de Bellas Artes da Universidade Nacional de La Plata. Possui diversos curtas, dos quais se destaca "El Empleo", um curta de animação argentina de 2008, premiado em diversos festivais. A animação nonsense mostra a rotina melancólica, ligada a um mundo desconexo, de um homem, que percorre seu caminho usual até o trabalho, na qual usar as pessoas como objetos faz parte do cotidiano.

Nesta animação, que retrata um mundo bizarro, onde tudo é substituído por pessoas, vemos que os personagens parecem lidar com grande naturalidade toda aquela estranheza do cotidiano.

No início, e durante o curta, o que vemos é uma animação surreal, onde todos os objetos de um mundo real – desde a mobília da casa, o semáforo do trânsito até ao mecanismo que movimenta o elevador de um prédio – são substituídos por pessoas. Porém, é no final do curta que entendemos toda a melancolia daquele homem, que percorre seu caminho até o trabalho para ter o mesmo fim que o dos outros personagens: de ser um objeto. No seu caso, de ser um tapete na entrada de um escritório de um burguês.

O final pertubador dessa animação mostra seu impacto e sua genialidade para transmitir uma crítica a sociedade contemporânea e ao sistema capitalista.

A partir destas críticas, podemos fazer um diálogo com uma categoria marxista: a reificação do homem; a transformação do homem em simples objeto. Karl Marx aponta a reificação do homem como um dos males mais nocivo originado do capitalismo(1).

Por fim, a crítica a sociedade contemporânea sintetiza a forma que as relações sociais estão deterioradas. É evidente o processo de desumanização das pessoas como algo natural, onde o valor das pessoas são medidos pelo que elas tem ou pelo que produzem e não pelo que são.

(1) Capítulo “A Mercadoria” do livro “O Capital” de Karl Marx

Referências Bibliográficas
EL EMPLEO. Santiago Grasso. Argentina: Opusbou, 2008.
MARX, Karl. O Capital. Coleção Os economistas. São Paulo: Nova Cultural, 1988

* Rafael de Almeida Campos é aluno do 2 periodo do curso de cinema e Video da UNA.

sábado, 2 de junho de 2012

10 MUMIA - INSCRIÇÕES ENCERRADAS

As inscrições para o 10 MUMIA – Mostra udigrudi Mundial de Animação encontram-se encerradas e por bater nosso recorde de inscrições os filmes, os resultados serão divulgados no começo de julho.