segunda-feira, 19 de abril de 2010

Análise das técnicas de animação utilizadas no filme “Mary Poppins” de Walt Disney



Análise das técnicas de animação utilizadas no filme “Mary Poppins” de Walt Disney por Vitória Carolina Almeida*


Mary Poppins (1964) foi considerado um grande marco na história do cinema, utilizando Live Action e animação de desenhos em uma mesma cena e stop motion em outras. Sendo um dos pioneiros no que hoje conhecemos como Efeitos Especiais, a história da babá mágica é constantemente revisitada em suas técnicas cinematográficas.

Walt Disney, que tentava comprar os direitos autorais da obra infantil de P. L. Travers desde 1938, finalmente o conseguiu vinte e um anos depois, começando a pré-produção do que seria considerado seu projeto mais pessoal quatro anos antes das filmagens.

Disney, que já tinha experiência na mistura de animação com Live Action, vide sua série “Alice” datada dos anos 30, decidiu inovar mais com o filme cuja história por si só já era mágica.

O esforço foi tão recompensado que o filme levou nada menos que 5 das 13 nomeações para os Academy Awards, incluindo melhores efeitos visuais e edição.
As técnicas usadas ainda estavam sendo desenvolvidas, e nunca antes haviam sido utilizadas tantas em um mesmo longa metragem.

Já nos primeiros minutos do filme, a figura da personagem título, representada por Julie Andrews aparece entre as nuvens sobre a Londres de 1910. A magia dos estúdios Disney, com a ajuda das cores vivas providas pela Technicolor, então se inicia. Andrews estava, na realidade, assentada no alto de uma escada, tendo as nuvens sido adicionadas depois, em outra película, que, quando juntas, formaram a cena vista.
Conforme a história se desenvolve, vemos Poppins voando pelo céu com seu guarda-chuva, o que era possível graças a cabos de aço, que seriam digitalmente removidos depois e substituído pelo cenário do céu recobrindo a Alameda das Cerejeiras e o Parque.

A cena da arrumação do quarto das crianças é a primeira a utilizar verdadeiramente o conceito de animação nesse filme. Os móveis e objetos que se movimentam ao comando das crianças foram gravados em cenas distintas, fazendo o inverso do que aparece no vídeo. As camas, por exemplo, foram filmadas sendo desarrumadas. Depois, a gravação foi juntada com o restante do filme de trás para frente, dando a impressão de que o quarto estava se arrumando sozinho. A parte em que os soldadinhos aparecem marchando em direção à caixa de brinquedos, porém, foi constituída única e exclusivamente de Stop Motion, técnica que estava sendo desenvolvida pelos estúdios Disney para o filme “O soldadinho de chumbo.” Deve-se ressaltar também o uso de Animatronics, bonecos eletrônicos que estavam sendo desenvolvidos para o complexo de parques Disney. Os passarinhos com quem Poppins contracena, eram, na realidade, robôs movidos por cabos devidamente escondidos por entre as roupas de Andrews.
Mas é quando Mary Poppins leva as crianças para um dia no parque que a magia do filme atinge seu ápice. Com a ajuda de um pouco de “mágica” elas entram em um dos desenhos feitos por Bert no chão do parque, transportando-se para um mundo de duas dimensões perfeitamente criado para tirar o fôlego do público que, nos anos 60, não estava nem um pouco acostumado com esse tipo de criação e se surpreendeu o feito dos estúdios Disney. Como era possível, em 1963 misturar pessoas reais com tartarugas e pingüins desenhados que interagiam perfeitamente com os personagens? Disney tinha a resposta.

Depois que os Storyboards estavam meticulosamente prontos, os atores eram filmados contra uma tela laranja chamada “Sodium Vapor Process Screen”, a precursora dos Chroma Key, que somente permitia a filmagem dos atores, sendo o fundo adicionado posteriormente pelos animadores. A técnica do fundo laranja, criada por Ub Iwerks, era a única até o momento que admitia a utilização de uma palheta de cores quase infinita no figurino dos atores, o que fez com que fosse possível que os atores fossem perfeitamente separados do fundo sem perca de detalhe algum.

Tendo a filmagem da atuação em mãos, os responsáveis pelos desenhos faziam seu trabalho baseando-se na posição dos atores. Em outra película, os animadores desenhavam os personagens, posteriormente essa era juntada e sincronizada com a original, nos dando a totalidade da cena como é conhecida até hoje, o que criava uma interação perfeita entre desenho e realidade, nos fazendo realmente acreditar que Mary e Bert estavam dançando com vacas, cavalos e pingüins de duas dimensões.

E por último, mas não menos importante: a cena do passeio pelos telhados de Londres. Mais uma vez os atores foram filmados contra a “Sodium Vapor Process Screen”, que seria mais tarde substituída pela pintura de Londres, na qual haviam furos milimétricos, que permitiam a passagem de luz de maneira de que, quando anoitecesse, pequenas luzes se acendiam por toda a cidade, aos pés do quarteto.Já os fogos de artifício que espantam os limpadores de chaminé foram adicionados depois, tal como os desenhos na cena do parque.

Assim, Walt Disney, que já tinha um grande prestígio por toda sua capacidade cinematográfica, teve neste, que foi considerado uma de suas obras primas, um reconhecimento enorme, que até hoje perdura na mente de adultos e crianças.

Referências utilizadas:

“Making of” do filme nos DVDs das edições especiais de comemoração de 40 e 45 anos de Mary Poppins.

MARY Poppins. Direção: Robert Stevenson. Produção: Walt Disney e Bill Walsh. Intérpretes: Julie Andrews; Dick Van Dyke; David Tomlinson; Glynis Johns e outros. Roteiro: Bill Walsh e Don DaGradi. Disney Studios, 1964.


Vitória Carolina Almeida, 18 anos, estudante do 1 período de Cinema e Video da UNA

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