quinta-feira, 15 de abril de 2010

Lotte Reiniger




Lotte Reiniger pot Paola Giovana*

Falar de animação não é uma tarefa simples. Falar sobre uma mulher que faz animação é tarefa ainda mais árdua. Quantas mulheres são reconhecidas por serem artistas da animação? Lotte Reiniger foi a primeira mulher a se dedicar a esta arte, e ajuda a provar, com seu enorme talento, que a maioria masculina na profissão não é questão de pouca técnica ou criatividade das mulheres.

Lotte era alemã, e nasceu na cidade de Berlim, em 2 de junho de 1899, pouco tempo depois do surgimento do Cinema. Durante a adolescência, trabalhou com o grupo de Paul Wegener, para quem construiu, posteriormente, os ratos de madeira animados do filme “O Flautista de Hamelin”. Após o sucesso deste trabalho, ela foi admitida no “Institut für Kulturforschung” um instituto de animação experimental, onde pôde desenvolver suas técnicas. Mais tarde, colaborou também com Fritz Lang, em “Os Nibelungos”.

No período da Segunda Guerra Mundial, Reiniger tentou fugir do nazismo, mas era sempre obrigada a voltar para a Alemanha. Em 1949, estabeleceu sua moradia em Londres, onde realizou 12 curtas-metragens inspiradas nos contos dos Irmãos Grimm. O primeiro longa-metragem de animação, “As Aventuras do Príncipe Achmed”, foi realizado por ela e era baseado nas histórias de “As Mil e Uma Noites”. A temática da maioria de suas obras girava, portanto, em torno da adaptação ou representação de contos infantis.

Como nos próprios contos de fada, as animações de Lotte têm um narrador que ajuda a direcionar a história. Na maioria de suas animações existem pouquíssimos diálogos, apenas quando são realmente indispensáveis. Os movimentos das personagens e os cenários, juntamente com a narração, se encarregam de representar a narrativa sem a necessidade de muitos diálogos.

Lotte possuía seu próprio teatro de marionetes quando pequena, e sua técnica de animação de silhuetas foi inspirada no teatro de sombras chinês, com influências também do jogo de contrastes e uso da luz do Expressionismo Alemão. As silhuetas eram recortes de cartolina preta, projetados contra a luz; e as animações possuíam mais de um plano, o que possibilitava a inclusão de efeitos especiais. A utilização de vidros para manipular os múltiplos planos simultaneamente colaborou para a criação de animações com maior profundidade espacial e complexidade.

Apesar de os recortes de silhuetas serem negros, Lotte não fazia apenas animações em preto e branco. “As Aventuras do Príncipe Achmed” e “João e o Pé de Feijão” são exemplos das animações coloridas, em que as siluetas e alguns elementos do cenário continuam negros e o plano de fundo é colorido com apenas uma cor ou mesmo com cores variadas. Mesmo nas obras em cor, o contraste entre as silhuetas e o plano de fundo é sempre bem explorado. A possibilidade de se imaginar o que poderia estar oculto nas sombras das silhuetas é um recurso narrativo característico do estilo da autora, esmerado nos detalhes expressivos de seus recortes graciosos e delicados.

A sincronia com a música em cada animação, acompanha a leveza dos movimentos dos personagens de forma tão concisa que até nos esquecemos da existência de uma trilha sonora. A montagem, se é que podem ser assim denominadas as mudanças de plano em uma animação, também é bastante sutil. Temos, na verdade, a impressão de que o próprio cenário se encarrega de mudar os planos, na maioria das cenas. O fade-out é utilizado, como no cinema, pra indicar passagem de tempo, mas seu uso também é comedido.

O mérito da animadora vai além do pioneirismo feminino no cinema de animação, portanto. Lotte Reiniger possuía criatividade, destreza, técnica, paciência e personalidade para se destacar desta maneira, forjando seu estilo e técnica próprios em uma arte ainda em nascimento.

Um orgulho para as mulheres, cineastas, diretoras, animadoras, ou de qualquer outra profissão. Apesar de não ter sido tão reconhecida como Walt Disney, ou outros homens da animação, teve a honra de ser a autora da primeira animação em longa-metragem. Um trabalho difícil e criterioso, que apenas uma pessoa com a habilidade e sensibilidade como as dela poderia ter realizado.

Lotte faleceu em 19 de Junho de 1981, em Dettenhausen, Alemanha, mas sua obra continua a nos encantar.

Algumas obras:
•Em “The Little Chimney Sweep” (O Pequeno Limpador de Chaminés), Lotte conta a história de um pobre garoto limpador de chaminés que ajuda a salvar uma menina rica, tornando-se um herói para a família da moça.

•Na animação “The Three Wishes” (Os Três Desejos), temos um lenhador que liberta uma fada de dentro de uma árvore e ganha dela um anel que lhe concede três desejos. Ele deixa este anel aos cuidados de sua esposa, enquanto vai pedir conselhos sobre quais pedidos deve fazer. Quando retorna, ela havia gasto um dos desejos, e eles têm de lidar com a confusão que se desdobra.

•“Hensel and Gretel” (Hensel e Gretel) são um garoto e uma garota que vão brincar nos campos e ficam perdidos. Ao encontrarem uma casa feita de doces e chocolates, são aprisionados por uma bruxa. Um esquilo e um ganso vão ajudá-los a escapar e a voltarem para o seu lar.

Referências
As Sombras de Lotte Reiniger. Disponível em: http://olivroinfantil.blogspot.com/2009/06/as-sombras-de-lotte-reiniger.html

Entrevista: LOTTE REINIGER, SUA VIDA E O RECORTE DE SILHUETAS. Disponível em: http://www.festivaldecinemainfantil.com.br/blog/?p=290

Saiba mais sobre Lotte Reiniger, a mãe do cinema de animação! Disponível em: http://www.festivaldecinemainfantil.com.br/blog/?p=109

Scissor Lotte. Disponível em: http://desenhoarq.wordpress.com/2009/02/22/scissor-lotte/

Paola Giovana, 23 anos, estudante do 7 Periodo do Curso de Cinema e Video da UNA.

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