sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Underground com estilo


O cineasta Sávio Leite leva a animação Terra ao Festival de Curtas de Clermont-Ferrand

Mariana Peixoto – Jornal Estado de Minas - Cultura - Seção : Cinema - 13/01/2009
“Se o curta-metragem brasileiro é underground, a animação é mais ainda.” O curta-metragista Sávio Leite, de 37 anos, fala isso com conhecimento de causa. Desde o início da década ele milita na área, seja por meio de seus curtas – já são dez no currículo, 80% deles em animação –, seja por vias do Múmia – Mostra Udigrudi Mundial de Animação, que em novembro realizou sua sexta edição. Frequente nos festivais brasileiros, ele, neste início de ano, participa de dois dos mais importantes eventos do gênero no mundo.

Seu mais recente filme, Terra, animação lançada em agosto na Mostra de Curtas de São Paulo, foi selecionado para a competitiva do mais prestigiado festival de curtas do planeta, o de Clermont-Ferrand, cuja 31ª edição será promovida entre 30 deste mês e 7 de fevereiro. A produção de Sávio Leite é a única mineira selecionada para o festival. Outros curtas brasileiros que vão à França são Os sapatos de Aristeu, de Luiz René Guerra, Saltos, de Gregório Grazioni, e Tabaratara, de Júlia Zakia, todos de São Paulo, além de Muro, de Tião, pseudônimo do pernambucano Bruno Bezerra. Em março Sávio Leite parte para a Finlândia, mais especificamente para o Festival de Tampere, onde, além de integrar o júri, vai exibir dois programas de animação brasileira exibidos no Múmia.

Terra foi criado a partir de um texto do escritor mineiro Sérgio Fantini. “Você vai acompanhando o texto, se identifica, até que ele lhe dá uma rasteira”, afirma Sávio Leite. Filme mais caro realizado por ele até então – R$ 60 mil, verba proveniente de edital da Secretaria do Audiovisual –, ele comenta que pôde, pela primeira vez, trabalhar com todos os profissionais que quis. O texto é narrado por Paulo César Pereio – “caiu como uma luva para ele” –; os animadores foram Binho Barreto, Bruno Galan, Carlos Dias e Denis Leroy (este último também assinou a direção de arte); e a trilha sonora foi criada por Sérgio Scliar.


Terra é baseado em história de Sérgio Fantini
Há ainda a participação do veterano ator Ezequias Marques. “Nesse filme, quis fazer uma homenagem a Bang bang (realizado por Andrea Tonacci em Belo Horizonte em 1971), por isso chamei ele e o Pereio (os dois estiveram no elenco da antológica obra do cinema marginal) para participar.” Sem falsa modéstia, Sávio Leite considera Terra seu melhor trabalho. “Consegui um equilíbrio entre o underground e a perfeição.” Até agora o curta participou de 25 festivais, no Brasil e exterior (na América Latina, foi exibido no Chile, Colômbia, Equador, Cuba, Bolívia e Peru).

A participação no evento finlandês foi garantida pela assiduidade nas mostras nacionais. “Levo sempre o catálogo do Múmia. Há quatro anos, conheci Juhani Alenen, um dos curadores do festival de Tampere. Quando enviei os dois programas, fiquei impressionado com a resposta. Mesmo sem saber português, ele conhece os filmes, tanto que questionou alguns que eu não havia selecionado”, acrescenta Sávio Leite. A opção pela animação se tornou definitiva somente há alguns anos. “Sempre gostei de cinema de gente maluca, como Glauber e Godard. Depois vi que o cinema tem o limite físico, e a animação não, então você pode ser muito mais doido através dela”, conclui.

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