quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

O ANO É DE ANIMAÇÃO



Desenho animado é a área do audiovisual que mais se profissionalizou no País, segundo os especialistas. Veja tudo o que vem por aí

Patrícia Villalba
O mercado brasileiro de animação nunca esteve tão aquecido quanto agora. Coproduções com gigantes dos desenhos animados - como a Austrália e o Canadá -, além de editais específicos para o setor, do Ministério da Cultura e Fundação Padre Anchieta, dão a dica de que este será mesmo o "ano da animação", como está sendo dito no meio. Enquanto Mauricio de Sousa finaliza o longa-metragem em 3D do personagem Horácio, a produtora TV Pingüim se prepara para lançar a série Peixonauta na TV por assinatura, mesmo caso de Escola pra Cachorro, da Mixer. Uma coprodução entre Brasil, Austrália e Espanha, a segunda temporada de Princesas do Mar, do brasileiro Fábio Yabu, já está pronta para estrear.

E, para completar, a TV Rá Tim Bum, canal a cabo da Fundação Padre Anchieta dedicado às crianças, prepara o lançamento de 19 séries, produção mais do que expressiva para a sua pequena fábrica de desenhos na sede da TV Cultura. "Agora entramos numa situação de ou vai ou racha no mercado de animação do Brasil. A animação entrou na pauta", avalia o diretor de projetos especiais do canal, Mauro Garcia. "É a área do audiovisual que mais se profissionalizou no País", completa o gerente de produção do canal, Mário Sérgio Cardoso.

Numa mesma sala nos estúdios da Água Branca, o artista plástico Sérgio Esteves dá vida ao narrador de Papel das Histórias, ao mesmo tempo que o animador Cleber Marchetti sincroniza a dublagem (lip sync) que o padeiro e apresentador Olivier Anquier fez para a traça francesa que tenta devorar um Portinari em Traçando Arte. São duas novas séries que dão a dimensão do sortimento de ideias e pesquisa de formato que a TV Rá Tim Bum abriga hoje, quando chega ao quarto ano de vida. "Depois de toda a digitalização, estamos buscando formas mais artesanais de construção para os desenhos", anota Garcia.

Ele fala especificamente de Papel das Histórias, um deslumbramento de imagens que vai contar fábulas de La Fontaine em 13 episódios, de 7 minutos cada um. Os personagens e os cenários foram feitos de papel cartão, fotografados, e animados no computador por Esteves, que domina todo o processo. "A ideia surgiu quando eu fui dar uma oficina de bonecos na periferia, e faltou espuma. Para não perder a aula, resolvi usar um material mais barato", lembra ele, que se diverte ao constatar que para produzir os dois primeiros episódios da série gastou R$ 100 em papel.

O esquema de trabalho de Esteves e do pessoal da TV Rá Tim Bum pode ser chamado de heroico se comparado aos grandes estúdios americanos, por exemplo. Para se ter uma ideia, 500 pessoas chegam a trabalhar ao mesmo tempo num desenho como Wall.E. O avanço da computação gráfica tornou o processo muito mais rápido e melhorou a qualidade do que se vê na tela, mas o trabalho continua sendo braçal, basicamente - daí, o fato de que muitos estúdios estão buscando mão-de-obra em países como Índia e China. Outro dado é que mesmo o computador mais potente leva mais de 80 horas para processar uma cena de animação de apenas 3 segundos em 3D. "Tenho sorte de poder trabalhar assim, do story board à finalização", observa Esteves, satisfeito por ver que da sua experimentação surgiu um novo formato - perfeito para o tipo de história que o canal queria contar.

Com uma grade de programação que, por opção, é 100% brasileira, a TV Rá Tim Bum precisa produzir em quantidade, porque o mercado não consegue atender à sua demanda. Mas as expectativas são grandes. "Quando começamos, não recebíamos nenhum projeto. Agora, isso já mudou, trabalhamos com algumas produtoras independentes", diz Garcia. "Ainda não podemos falar que temos uma indústria de animação no Brasil, mas vamos chegar lá, sim."



EDITAL DO MINC RECEBEU MAIS DE 200 INSCRIÇÕES

LENHA NA FOGUEIRA: O sucesso do edital Anima TV surpreendeu as mais otimistas expectativas do Ministério da Cultura. Lançado no fim do ano passado, o programa recebeu 257 projetos na primeira fase, que encerrou inscrições no dia 21 de janeiro. Desses, 227 foram considerados aptos para continuar concorrendo. Serão distribuídos R$ 3,9 milhões para a produção dos pilotos - de 11 minutos - dos 20 projetos vencedores.

Cada projeto receberá R$ 110 mil. Esses primeiros episódios serão testados em sessões especiais e em exibições na rede pública de televisão - a Fundação Padre Anchieta é, da TV Cultura e TV Ra Tim Bum, parceira do edital. Ao fim de todo o processo de seleção, depois de testados, dois programas serão escolhidos para ter uma primeira temporada produzida, de 12 episódios.

São Paulo foi o Estado que mais teve projetos inscritos no edital - 107. O Rio veio em segundo lugar, com 37, seguido da Bahia, que apresentou 25. Piauí, Mato Grosso e Paraíba competem com 1 projeto cada um. No total, 17 Estados enviaram projetos, e estão representados nesta primeira fase do edital.

Mas o maior volume de investimentos no setor - R$ 50 milhões - deve vir do Anima SP, uma parceria entre a Fundação Padre Anchieta e a Ancine, que vai usar recursos dos Fundos de Financiamento da Indústria Cinematográfica Nacional (Funcine). Lançado em janeiro, o edital está em fase de captação de recursos. Só depois, começará a receber inscrições. A expectativa é que os recursos comecem a ser distribuídos ainda neste ano. As séries produzidas terão exibição garantida na TV Cultura.

PRINCESAS VÃO AOS SETE MARES
FÁBIO YABU FINALIZA 2ª TEMPORADA DE SÉRIE VISTA EM 47 PAÍSES
AE - Agencia Estado

SÃO PAULO - Acostumado a dominar o processo de criação de suas histórias, o escritor e desenhista Fábio Yabu não deixa de se espantar quando contabiliza os 300 que trabalham hoje na segunda temporada da série Princesas do Mar. É uma ideia brasileira, mas de tema universal, para ser levada a crianças de 47 países, graças a uma parceria da empresa de Yabu, a Flamma, com as produtoras Southern Star, da Austrália, e Neptuno, da Espanha. ?No começo, com os livros, foi um trabalho bem independente?, lembra.



Yabu conta que desde que criou o Mundo de Salácia - o universo marinho onde vivem as amigas Polvina, Ester e Tubarina -, em 2004, pensava em fazer desenho animado. ?Tentei inscrever o projeto em vários editais, procurei canais de TV, mas naquela época era bem mais difícil fazer animação no País?, observa. O jeito foi partir para os livros. O primeiro, Princesas do Mar, foi lançado em 2004. Depois, vieram outros dois títulos. ?Em 2005, meu sócio (Reynaldo Marchezini) levou o projeto para uma feira de televisão na França. Fez 30 apresentações e voltou com três propostas.



A primeira temporada de Princesas do Mar foi lançada no ano passado. No Brasil e América Latina, a série foi exibida pelo canal pago Discovery Kids, conhecido pelas produções de qualidade. Foram investidos US$ 7 milhões, mesmo valor que será gasto na nova temporada, que estreia na Austrália no primeiro semestre - são 52 episódios. ?A estreia no Brasil ainda está sendo negociada?, informa Yabu, que ainda tenta levar a primeira temporada das princesas para a TV aberta. ?Tentamos a Globo, mas não deu certo. Continuamos conversando com a Record e a TV Cultura.?



Enquanto isso, Yabu desdobra a marca em licenciamentos - palavra mágica que acompanha os desenhos animados bem-sucedidos. ?O DVD da primeira temporada sai aqui ainda neste mês, e já está nas lojas da França, do México e da Argentina, onde ainda temos produtos para festas de aniversário. Aqui, preparamos também o lançamento de um álbum de figurinhas e uma linha de roupas?, enumera.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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