sábado, 14 de fevereiro de 2009

"Coraline" leva mundo bizarro de Gaiman para as telas



Quem reclama que as animações atuais estão infestadas de desenhos coloridinhos e personagens fofinhos para agradar às crianças pequenas agora tem o que comemorar. O prêmio atende pelo nome de "Coraline e o Mundo Secreto", que estreia em todo o país em cópias normais em 35 mm (dubladas em português ou legendadas) e em 3D (todas dubladas em português).

Roteirizado e dirigido por Henry Selick ("O Estranho Mundo de Jack"), "Coraline e o Mundo Secreto" é a adaptação de um romance infanto-juvenil de Neil Gaiman, escritor e autor de histórias em quadrinhos ("Sandman"), conhecido por suas histórias de fantasia.

Por isso, não espere um filme engraçadinho. Inicialmente, a censura seria 10 anos, mas a animação acabou sendo liberada para todas as idades. Crianças maiores e os adultos têm muito com o que se divertir - não necessariamente com as mesmas coisas.

A personagem do título é uma menina que se mudou com os pais para uma antiga casa no interior. Ignorada por eles, que escrevem sobre jardinagem, a garota passa o tempo explorando as redondezas e destilando mau humor e sarcasmo. Nem um novo amiguinho a ajuda a superar o tédio. Mas uma boneca entra na vida de Coraline para mudar tudo.

O brinquedo se parece com Coraline, embora tenha botões no lugar dos olhos, e a menina a leva para todo lugar. Mais tarde, quando a protagonista encontra uma misteriosa portinha na sala de sua casa, tudo começa a fazer sentido. Em um primeiro momento, a passagem está bloqueada com tijolos; porém, no meio da noite, aparece aberta e o que a menina vê a surpreende.

Do outro lado, existe um mundo quase igual ao seu, mas mais alegre e feliz. Os pais lhe dão atenção o tempo todo, lhe preparam comidas gostosas e brincam com ela. Seria maravilhoso, não fosse por um detalhe: eles têm botões no lugar dos olhos.

Não há limites precisos entre realidade e fantasia, o onírico e o real. Poderia ser um sonho de Coraline, como a Outra Mãe e o Outro Pai (é assim que eles se intitulam), o Gato falante ou os ratos acrobatas. Mas, ao mesmo tempo, tudo parece bem real. As coisas só pioram quando a Outra Mãe diz que Coraline pode morar com eles, desde que troque seus olhos por botões. A partir daí, o filme fica mais sombrio.

Com influências de "Alice no País das Maravilhas", de Lewis Carroll, e de outros autores menos prováveis numa história infanto-juvenil, como os diretores Tim Burton e David Lynch (em cujos filmes, a fronteira entre sonho e realidade nunca é muito clara), "Coraline e o Mundo Secreto" trabalha tanto a narrativa quanto o visual, dialogando com crianças e adultos.

Selick surpreende também com sua técnica de animação, a mesma usada em seu filme mais famoso, "O Estranho Mundo de Jack" (1993), conhecida como stop motion - que consiste em fotografar cada movimento dos bonecos, em vez de desenhá-los em papel ou mesmo com a ajuda do computador. O filme já tem, por natureza, um quê de terceira dimensão, que fica mais evidente nas salas onde há o recurso dos óculos.

Como em suas outras animações - como "James e o Pêssego Gigante", de 1996 - Selnick é talentoso na criação de outros mundos, universos paralelos regidos por suas próprias regras. Aqui, Coraline se surpreende ao encontrar do outro lado réplicas das pessoas que conhece, como as irmãs ex-estrelas e o russo domador de ratos. Todos muito parecidos, não fosse o detalhe dos botões no rosto.

"Coraline e o Mundo Secreto" é tão sedutor quanto assustador. Com uma história complexa, mas não incompreensível para crianças, o filme tem todos os requisitos para se tornar um clássico da animação.

(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)
* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb
do UOL Diversão e Arte

Atriz Dakota Fanning, de "Coraline", diz que Jodie Foster é sua inspiração
EDUARDO GRAÇA
Colaboração para o UOL, de Los Angeles (EUA)
Para o escritor Neil Gaiman, "Coraline" é uma história sobre o real significado de ser corajoso nesta vida. Não apenas enfrentar dragões como nas histórias de fada, mas encarar a rotina com a cabeça em pé e descobrir a magia das pequenas maravilhas de nossas realidades.

Aos 14 anos, Dakota Fanning jura que tem uma vida normalíssima, frequenta a escola como uma aluna qualquer em Hollywood e suas particularidades passam longe dos tópicos mais abordados por suas amigas mais próximas.

A atriz anos pulou da cadeira em 2004 quando soube que seu livro favorito se transformaria em filme. "Quando me encontrei com Dakota pela primeira vez ela tinha 9 anos. E foi engraçado, pois já era forte e decidida, ela sabia exatamente por que queria o papel de Coraline, mas ao mesmo tempo ainda dava aqueles risinhos tímidos, característicos de uma menina da sua idade. O tempo passou, mas soube, naquele momento, que ela era a Coraline do cinema", diz o diretor do filme, Henry Selik.

"O livro já foi feito; no cinema tem que ser outra coisa", diz Neil Gaiman

"Dakota é sensacional, e, claro, apresenta sua própria versão de Coraline. O livro é um best-seller e sei que existem centenas, milhares de Coraline na cabeça dos leitores e fãs", diz Gaiman.

Nesta entrevista ao UOL, a jovem atriz fala da relação com a crítica (pouco simpática à sua interpretação em "A Vida Secreta das Abelhas", seu principal lançamento em 2008) e de seus novos projetos, como a participação na seqüência de "Crepúsculo", o maior hit adolescente do ano.

UOL: Inicialmente, "Coraline" seria um longa de ação, não uma animação. Como você encarou a mudança do formato?
Dakota: Pensei imediatamente que minha interpretação viria unicamente de minha voz, o que é bem diferente, mas um desafio gostoso. Também é diferente estar lá sozinho, sem interação com os outros personagens. Mal vi a Terri Hatcher. Éramos eu e Selick apenas. Parece mentira, mas a primeira sessão de dublagem aconteceu há três anos e meio!

UOL: Coraline acredita não receber atenção suficiente dos pais. Você já viveu este terrível dilema?
Dakota: Minha mãe nunca trabalhou fora. Sou a filha mais velha e ela estava lá o tempo todo. Sou sortuda. Eu e minha irmã éramos o emprego dela! Nos mudamos para Los Angeles quando tinha seis anos, por conta de Hollywood, e adoro aqui. Tenho saudades do sul, onde cresci, mas boa parte da família está lá e os visito com frequência.

UOL: Existe uma idéia de que atrizes-mirins não vivem uma vida normal...
Dakota: Nenhuma das complicações clássicas aconteceram comigo. Gente, eu vou à escola! Amanhã cedo acordo e vou para o colégio. Quando não estou trabalhando, estou fazendo coisas normais (risos), como estudando. Meus amigos apenas vêem a Dakota, a colega deles, e é ótimo, não tem nada de especial. Nenhum de meus amigos íntimos está em Hollywood, todos têm outros interesses. Sou quem eu sou e pronto.

UOL: Você pensa em uma carreira diferente?
Dakota: Não, faço o que sempre quis e o que mais gosto na vida. Quero ir à universidade. Ainda tenho alguns anos para decidir que carreira, mas não sei bem qual ainda. E sei que quero muito me preparar para me tornar uma diretora.

UOL: E você já usou sua habilidade como atriz na vida real para conseguir algo que queria?
Dakota: (rindo muito) Não, nunca! Juro! Meus amigos às vezes mexem comigo e dizem, "vai, chora agora e você consegue o que quer" (risos). E eu disse: não, isso é uma tolice! (risos).

UOL: Você vota no Oscar?
Dakota: Sim. Ainda não votei, mas provavelmente votarei em Sean Penn para melhor ator [a atriz trabalhou com Penn em "Uma Lição de Amor", um de seus trabalhos mais emblemáticos].

UOL: Você tem algum ícone entre as grandes estrelas de Hollywood?
Dakota: Meu modelo de carreira é Jodie Foster. Eu a amo profundamente. É minha maior inspiração quando penso em meu trabalho. Queria ser como ela.

UOL: A Vida Secreta das Abelhas recebeu críticas duras aqui nos EUA. Você sendo uma atriz tão jovem já pensa nos comentários sobre o seu trabalho como importantes para o seu amadurecimento na profissão?
Dakota: Não leio críticas. Tenho orgulho do que fiz. E conheço mais pessoas que amam "A Vida Secreta das Abelhas" do que as que desgostam. Mas não é algo importante para mim, não. Estou feliz com a liberdade de opinião.

UOL: É verdade que você vai ser uma das protagonistas da continuação do filme "Crepúsculo"?
Dakota: Está quase certo. Ainda é muito cedo para dizer que é 100% de certeza, mas as coisas estão bem encaminhadas. Sou uma grande fã da série, vai ser muito legal, muito legal mesmo.

UOL: Existe alguma coisa que você gostaria de mudar em você?
Dakota: Sou uma atleta medíocre. Adoraria poder ser mais talentosa quando se trata de esportes. Sou uma negação total! (risos). Meu pai ficaria tão feliz! Minha irmã é a esportista-padrão, gosta mesmo. Ah, quem me dera ganhar um dia um jogo de basquete! (risos).

UOL: Você está lançando nos EUA um outro filme no mesmo dia em que "Coraline" chega aos cinemas americanos.
Dakota: Sim, "Heróis", um filme de ficção científica em que todos temos poderes especiais. O filme é passado em Hong Kong e foi divertidíssimo filmar lá, uma cidade incrível.

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