sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Brasil animado, o primeiro filme 3D rodado no país


Cineasta Mariana CaltAbiano avisa: a técnica não substitui histórias e personagens criativos

Walter Sebastião - materia publicada no jornal Estado de Minas - Cultura - 13 de janeiro de 2011.

“O Brasil parece mulher bonita que se acha feia”, lamenta a cineasta Mariana Caltabiano. “Mostramos muito a nossa pobreza e violência, mas deixamos de lado os nossos encantos. Por isso decidi fazer um filme que só mostra as coisas boas do país”, explica. Ela está falando de Brasil animado, que chega às telas no dia 21. O primeiro filme brasileiro em 3D põe nas telas a modelo Gisele Bündchen, as obras de Aleijadinho, lendas da Amazônia, saltos de asa-delta no Rio de Janeiro, surfe no Nordeste, comida mineira e até o festival de cinema de Gramado.

As estrelas de Brasil animado são Stress e Relax. O primeiro é um empresário em busca de bons negócios; o outro, diretor de cinema que gosta de curtir a vida. Amigos há anos, Relax sempre convence Stress a investir em seus projetos. A empreitada é localizar – “sem mapa, sem bússola, sem noção” é o subtítulo do filme – o Grande Jequitibá-Rosa, árvore mais antiga que Jesus.

“Sou metade Relax e metade Stress, características necessárias para fazer cinema”, brinca Mariana. “O filme tem humor, informação e histórias interessantes. Não é chato nem educativo”, avisa ela. Aventura e comédia se mesclam no longa, que será exibido dia 23 na 14ª Mostra de Cinema de Tiradentes. O primeiro filme de animação da cineasta, Gui, Estopa e a natureza, também estará em cartaz na cidade histórica mineira.


Impacto Tudo que perdia grandeza nas animações será apresentado com imagens reais, explica Mariana Caltabiano. Só com desenho animado não dá para obter todo o impacto das Cataratas do Iguaçu ou do Corcovado, por exemplo. O uso da cor ajudou – e muito –, pois a técnica de 3D tira um pouco da luz. A decisão de usar o processo partiu do coprodutor, conta a cineasta. Testes confirmaram o acerto dessa opinião, pois a fita se tornou mais interessante e a tela virou “janela para as belezas do Brasil”, resume ela.


A opção teve seu preço: cobrou a disposição de importar equipamentos, exigiu treinamento especial de mão de obra. O processo é caro, avisa a diretora, mas será barateado com a progressiva disseminação do sistema. Mariana Caltabiano adverte: 3D é técnica muito interessante, mas deve ser usada com moderação, de forma a realmente acrescentar algo à cena.


“Brasil animado dá a sensação de que estamos, mesmo, no local. Não adianta ter recursos mirabolantes se não há história e personagens cativantes”, defende. Entre as animações nacionais, a cineasta elogia a série Peixonautas e os filmes da Turma da Mônica. Mariana é fã de Mauricio de Sousa: “Foi meu grande inspirador. Criança, devorava as revistas dele e hoje as leio para meus filhos. Os personagens são simples e geniais, falam direto à criança. Esse autor conseguiu passar de geração para geração. Tenho esperança de que meus personagens também sejam assim”.

A paulista Mariana Caltabiano, de 38 anos, é escritora, cineasta e autora de algumas proezas. Seu filme As aventuras de Gui & Estopa foi a primeira animação nacional comprada por uma TV a cabo do país. É dela o livro Vips, histórias reais de um mentiroso (Editora Jaboticaba), sobre Marcelo Nascimento da Rocha, o picareta que se disse filho do dono da Gol e enganou a alta sociedade.

Depois de entrar na lista dos mais vendidos, Vips... chega aos cinemas em duas versões: documentário, que será lançado em fevereiro, dirigido pela própria Mariana; e o longa de ficção com Wagner Moura, dirigido por Toniko Melo, cuja estreia está prevista para março. “É a história incrível de um homem inteligente que não tem medo de nada”, explica Mariana. No último festival de cinema no Rio de Janeiro, o filme foi recebido como comédia e conquistou quatro troféus.

A cineasta passou um ano visitando um presídio para entrevistar Marcelo Nascimento da Rocha. As cenas do documentário Vips foram feitas como pesquisa para o longa de ficção. “Tudo era tão inacreditável. Personagens e histórias interessantes são os elementos que me motivam a fazer um filme”, acrescenta.

Animação é a nova paixão de Mariana Caltabiano. Ela já está às voltas com um novo projeto: Zuzu Zubalândia, sobre a menina que mora no reino feito de comida. A obra se inspira em outro livro dela, escrito para crianças, que foi transformado em série de desenhos animados para o SBT. Atualmente, é exibida aos domingos, às 9h30, no Cartoon Network.

Mariana estudou cinema e artes visuais em Nova York. De volta ao Brasil, trabalhou em programas infantis da TV. Criou série com bonecos e games, que se tornou quadrinhos animados em 2006.

Cidade de Deus e Tropa de elite mostram que filmes bons, brasileiros, benfeitos, fazem sucesso.diz Mariana Caltabiano.

Ídolos
“Cresci vendo o Pernalonga falar sobre a história dos Estados Unidos de forma divertida e bem-humorada. Por que não falar do Brasil assim? Brasil animado é divertido, tem conteúdo interessante, curioso e, ao mesmo tempo, importante. Estão no meu filme Fernando Meirelles, Daiane dos Santos, Gisele Bündchen, Vinicius de Moraes, Tom Jobim e Santos Dumont. Guga ganhar três vezes o Roland Garros é quase inacreditável, mas as pessoas parecem não perceber. Esses brasileiros não se deixaram intimidar com a concorrência de fora, acreditaram em si mesmos e partiram para realizar seus projetos. Acredito tanto nessa atitude que estou fazendo filme de animação.”

Cinema
“Estamos fazendo mais filmes e a qualidade cresceu. Sou ex-atleta, acho que é preciso praticar para acertar. Tem gente que adora falar que aqui não dá para fazer as coisas. Não adianta. Temos é que tentar melhorar, sempre. Cidade de Deus e Tropa de elite mostram que filmes bons, brasileiros, benfeitos, fazem sucesso. Não temos milhões de dólares para animação, mas podemos compensar com personagens divertidos, histórias criativas. Temos grandes desenhistas e ainda fazemos pouca animação. Mas vamos ter, com certeza. O gênero atrai público, como se vê em lançamentos internacionais. As pessoas procuram programas que podem ser feitos com a família e cinema acaba sendo ótima opção.”

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