domingo, 21 de fevereiro de 2010

Ratatouille


















Essa reportagem saiu no Jornal Folha de São Paulo no dia 03 de julho de 2007.
Guardei a reportagem por achar muito interessante.
Saboreiem!

Ratatouille" cativa fãs de gastronomia

Animação da Pixar conta a história de um rato com gosto apurado que quer virar chef de um restaurante estrelado em Paris

Nova produção da Disney levou seis anos para ficar pronta; longa apresenta um menu de referências para apreciadores da boa comida

JANAINA FIDALGO
ENVIADA ESPECIAL A PARIS
Para Folha de São Paulo, 3 de julho de 2007

Não pode haver ambiente mais hostil para um rato que a cozinha de um restaurante. Ainda mais se o restaurante em questão já tiver sido um dos mais bem cotados de Paris. Mas Remy, o protagonista de "Ratatouille", a nova animação da Disney/Pixar, não é um rato qualquer. É um roedor com alma de gourmet, de olfato apurado e paladar aguçado, que está cansado de roubar restos de comida dos humanos e que sabe diferenciar um "tomme de chévre" de um queijo qualquer.

Dirigida por Brad Bird ("Os Incríveis"), "Ratatouille" (pronuncia-se "ratatui", referindo-se ao guisado de legumes como berinjela, abobrinha, tomate e cebola) chega amanhã ao Brasil, depois de ficar em primeiro nas bilheterias dos EUA em seu final de semana de estréia. A arrecadação de US$ 47,2 milhões, inferior a desenhos anteriores, foi considerada um bom resultado pelo estúdio, que tinha dúvidas sobre a reação da platéia americana a um desenho estrelado por um rato chef francês.

A nova produção da Disney/ Pixar, que levou seis anos para ficar pronta e passou por uma troca de diretores (quem deu início ao projeto foi o autor da história, Jan Pinkava), acompanha a epopéia de Remy, um rato que tem um sonho aparentemente impossível: tornar-se chef de cozinha de um restaurante estrelado de Paris, o Gusteau's. Para isso, fará um pacto com um humano que não sabe nem segurar uma faca, o atrapalhado ajudante Linguini.

"Eu acho os ratos incrivelmente fofos, mas sei que algumas pessoas os acham bem asquerosos. Gosto do fato de esse desenho ser a mais extrema história de um "peixe fora d'água". Os filmes da Pixar são engraçados e bonitos mas também têm essa emoção", diz John Lasseter, produtor-executivo da animação, cuja premiére mundial aconteceu no último sábado, em Paris.

Enquanto os projetos anteriores da Pixar eram mais centrados em temas do universo infantil, como brinquedos, insetos e monstros, "Ratatouille" mergulha no mundo da alta cozinha francesa e delicia os fãs de gastronomia apresentando um menu de referências. "Nós não pensamos assim [que o filme enfoca mais o público adulto]. Acreditamos em coisas interessantes, em filmes que gostaríamos de fazer. Podemos fazer animações que funcionem com adultos, adolescentes, crianças. Não queremos virar as costas para ninguém, falando com públicos específicos. Fazemos filmes que gostamos", diz Lasseter.

"Eu acredito que as crianças são muito inteligentes. Uma história complicada tem, por exemplo, 42 pontos para conectar. Se as crianças conectam 18, elas divertem-se e compreendem a história em níveis diferentes. Não há problema em não conectar os 42 pontos agora", explica o produtor Brad Lewis.

Um dos pontos que podem não ser conectados de cara é a referência a dois grandes vinhos que existem na "vida real": um Château Latour 1961 e um Cheval Blanc 1947.

"Eu amo vinho. Eu e minha mulher temos uma vinícola em Sonoma Valley [EUA]. Quando começaram a pesquisar os vinhos, virei para o Brad Bird e o Brad Lewis e disse: "Se forem mencionar um vinho, certifiquem-se para ter certeza de que é o melhor". Pesquisaram e, claro, escolheram estes dois", conta Lasseter. "Eu não bebi esses vinhos... Não ainda."
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A jornalista JANAINA FIDALGO viajou a convite da Walt Disney Studios

Equipe do filme participou de aulas e comeu em restaurantes badalados[/align]

DA ENVIADA A PARIS

Se antes de produzir "Procurando Nemo" os animadores da Pixar fizeram expedições de mergulho e para fazer "Carros" eles visitaram autódromos, em "Ratatouille" a equipe participou de aulas de cozinha e comeu em restaurantes parisienses famosos (Taillevent, Guy Savoy, Tour d'Argent).

"Você senta e é avisado que o chef quer fazer uma refeição especial. Você pensa: "Fantástico, isto vai ser ótimo" -e foi ótimo, não me entenda mal. Mas você não sabe quanto tempo vai durar, quantos pratos vai comer e quanto gastará. E, finalmente, depois de quatro horas e meia, comemos nada menos que 17 pratos. E o menu tinha 29. Sei que soa como: "Oh, coitado, pobre homem". Mas, literalmente, foi doloroso", conta o produtor Brad Lewis.

Por ter se envolvido no projeto quando ele já estava em andamento, o diretor, Brad Bird, fez só uma viagem para Paris e visitou uns cinco restaurantes. "Minha aproximação foi estupidamente americana. Costumo comer uma salada antes de um bom prato principal e, ocasionalmente, uma sobremesa. Se você colocar um prato na minha frente com três pedacinhos delicados, vou comer. Não tem problema. Quando o próximo chegar... hum, mais um, OK. Uma hora e meia mais tarde... "Oh, Deus, mais?". Eles não param nunca de vir [risos]."

A equipe de "Ratatouille" contou ainda com a consultoria do conceituado chef Thomas Keller, do French Laundry, da Califórnia, e muitos detalhes da animação são inspirados na cozinha dele. Foi Keller quem criou a apresentação do prato que dá nome ao filme e toca emocionalmente o pálido e esnobe Anton Ego (voz de Peter O'Toole), um crítico de restaurantes que escreve seus mordazes textos numa sala com formato de caixão e cuja máquina de escrever tem uma caveira.

"Tivemos de pensar no que seria uma comida transformadora. O que poderia transportá-lo [o crítico] de volta à infância de uma maneira proustiana. Quando peguei uma camada de legumes e ela se compactou, percebi naquele momento como o prato seria", conta Thomas Keller, em entrevista concedida por e-mail à Folha.
Reproduzir as comidas vistas na animação foi, segundo a equipe da Pixar, uma das partes mais difíceis e trabalhosas. "Não precisa ser, necessariamente, real como uma fotografia. Mas tem de ser delicioso. E, algumas vezes, fazer algo parecer delicioso significa exagerar em um aspecto, fazer uma caricatura. As pessoas têm saído do filme com fome. Acho que deu certo", comemora Bird.

Mas o processo de familiarização não se deu só com as comidas. Ao notar que Remy estava com uma aparência muito humanizada, Bird pediu para refazerem os modelos do ratinho. O jeito encontrado para pegarem com precisão o comportamento dos animais foi conviver por um longo tempo com ratos de laboratório.

Outro desafio foi desenvolver a animação seguindo a opção de Bird pela comédia física em detrimento do diálogo entre os dois personagens principais -Remy entende a língua de Linguini, mas o ajudante não fala a língua do rato.

Acenando a cabeça, levantando a sobrancelha e encolhendo os ombros, Remy se faz entender, e a comunicação entre ele e Linguini é quase tão boa quanto em um filme mudo de Chaplin ou de Buster Keaton, humoristas em quem Bird e Lasseter se inspiram.

Humor e ação compensam ritmo irregular

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL

U m título em francês, um rato de esgoto como protagonista e uma produção atribulada, que incluiu a troca de diretor.

"Ratatouille", que estréia amanhã no Brasil, demonstra a confiança inabalável da Disney em sua afilhada Pixar para produzir sucessos em quaisquer condições -amparada por maciças campanhas de marketing, é claro. O estúdio, por sua vez, prova que a confiança recebida não é à toa. Sua qualidade técnica, demonstrada desde "Toy Story" (1995), e seu talento para criar bem-humoradas histórias para a família continuam afiados.

O eixo da nova animação é a história de Remy, um rato gourmet, de paladar e olfato apurados, que se inspira no mote do chef Gusteau ("qualquer um pode cozinhar"), seu ídolo, e segue o sonho de ser um refinado cozinheiro.

Á sua história soma-se um garoto humilde e desengonçado, Linguini, que, conduzido por Remy como uma marionete, passa de recolhedor de lixo a badalado chef do restaurante de Gusteau.

Em paralelo, diversos ingredientes são agregados ao prato principal -deslocamento da família, mistério e romance.

Essa mistureba faz com que o ritmo seja irregular, talvez reflexo da troca de direção -saiu Jan Pinkava, do premiado curta "Geri's Game" e entrou Brad Bird- e das mudanças no roteiro e nos personagens.

Mas as incontáveis referências -a "Casablanca", "Os Incríveis", Proust etc.- e as boas sequências de humor e ação conseguem amarrar o conjunto e satisfazer o espectador.

RATATOUILLE
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Direção: Brad Bird
Produção: EUA, 2007
Onde: pré-estréia hoje no Metrô Santa Cruz (dublado); em cartaz amanhã em 300 salas do país
Avaliação: bom

CHEF ESTRELADO É ATRAÇÃO EM ESTRÉIA

Remy é o protagonista de "Ratatouille", e Brad Bird, o diretor. Mas o mais assediado na premià¨re mundial da animação da Disney/Pixar, ocorrida no último sábado, em Paris, foi o chef catalão Ferran Adrià . O cozinheiro foi parado por várias emissoras de TV que cobriam o evento. "Gostei muito de "Ratatouille" e acredito que é um filme que marca uma nova relação entre crianças, comidas e cozinha. Creio que [os produtores] conseguirão convencer as crianças e os adultos de que a cozinha é boa para a alma", disse Adrià .

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