terça-feira, 8 de junho de 2010
Tex Avery “Na animação você pode fazer o que quiser.”
Anárquico, talvez este seja um dos melhores termos para se classificar Tex Avery e seu estilo histriônico de fazer animação. Basta dizer que ele é o pai do Pernalonga, personagem dos mais interessantes e provocativos já criados em um estúdio de Hollywood, e não apenas na área da animação, mas sim em toda indústria do entretenimento.
Frederick Bean Avery nasceu em fevereiro de 1908, na cidade de Taylor, Texas. Posteriormente adotou o nome Tex, pelo qual ficou conhecido. Após concluir os estudos na North Dallas Highschool, Tex se mudou para o sul da Califórnia, onde arrumou emprego no porto. No ano de 1929, após mostrar seu portfólio, conseguiu um emprego como animador no estúdio de Walter Lantz, mas sua contribuição no estúdio foi pequena. Foi então que em 1935 Tex se mudou para o estúdio de Leon Schlesinger, onde ele consolidou sua carreira e fez uma verdadeira revolução na animação.
No estúdio de Schlesinger que também era da Warner, Tex conseguiu criar sua própria equipe de animadores, entre eles estavam Bob Clampett e Chuck Jones. Trabalharam em mais de 60 títulos das séries Merrie Melodies e Looney Tuenes,e criaram grandes personagens como Pernalonga e Patolino. Perfeccionista, Tex mudou a forma como se fazia animação até então, principalmente pelos estúdios Walt Disney.
Foi em Wild Hare, filme dirigido por Tex Avery em 1940, que o coelho Buggs Bunny, nosso Pernalonga, aparece pela primeira vez em seu design final (de autoria de Robert McKimson). Pernalonga pode ser considerado uma síntese de todas as idéias de Tex para se criar uma animação. Ele levou as regras de ouro da animação, como esticar e puxar a um nível ainda não experimentado, Tex acreditava que na animação tudo pode ser feito, e delimitou isso muito bem na construção de seus personagens. Por isso Pernalonga é um bom exemplo das criações de Tex, porque o coelho não tem apenas seu design de animação, mas sua própria personalidade é delimitada dentro do mundo absurdo dos desenhos animados.
Mas talvez o personagem mais interessante para se pensar o estilo alucinado e inventivo de Tex, seja mesmo o personagem Wolfie, o lobo. Em 1942, Tex foi para a MGM, sob supervisão de Fred Quimby. Lá ele criou personagens como Droopy e Screwy Squirrel, e ainda dirigiu vários cartoons, como Magical Maestro, Ventriloquist Cat e King-Size Canary. E em 1943 começou uma série de cartoons de grande risco, pois foi com eles que Avery radicalizou algo que já vinha fazendo desde o início da carreira, cartoons para adultos, e assim fez outra grande revolução na animação ao mostrar que desenhos animados não necessariamente deveriam ter o publico infantil como alvo.
O primeiro grande filme dessa série foi Red Hot Riding Hood, de 1943, protagonizado pelo lobo Wolfie e a loira fatal de vermelho. O filme já começa subvertendo tudo sobre contos de fadas e se transforma num filme noir bebob jazz quase feminista. Nele, o lobo começa perseguindo a chapeuzinho vermelho, mas acaba sendo perseguido ele mesmo pela avó safada, e no fim admite ter um fraco por mulheres e se mata, mostrando que elas dominavam a situação e eram muito mais perigosas que o lobo, que não passava de um cordeiro frente à sexualidade dominadora da chapeuzinho/ loira fatal. Tex ainda repete essa formula em outros filmes, como Swing Shift Cinderella, de 1945. Mas é interessante como nesse filme, já no fim da guerra, a mulher no final volta a sua condição de mulher submissa e não consegue se livrar dos lobos que a espreitam.
Ao final de uma obra de Tex, além de muitas risadas, sentimos uma verdadeira sensação de liberdade e até libertinagem, no melhor sentido. Tex Avery é assim um dos grandes artistas que souberam subverter e criar algo realmente importante dentro do sistema de indústria hollywoodiano. E pelos seus personagens que ainda hoje pertencem a nossa cultura, percebemos que acima de tudo, Tex Avery foi um grande libertário.
Pedro di Lorenzo, estudante do 7 periodo do curso de cinema e video da UNA
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