quarta-feira, 23 de junho de 2010

PEIXONAUTA



Primeira série de animação brasileira na TV, "Peixonauta" conquista mercado

Matéria de autoria de LAURA MATTOS, publicado no jornal Folha de São Paulo de 18 de abril de 2010.

Parecia missão impossível, mas um peixe brasileiro invadiu as águas de Bob Esponja. O novo herói das crianças é Peixonauta, agente secreto da Ostra (Organização Secreta para Total Recuperação Ambiental).

Ele parece um astronauta por usar um escafandro cheio d'água para se manter vivo fora do mar ou do lago. Além de nadar em água doce ou salgada e de voar, conseguiu sobreviver em um mercado dominado por "predadores", desenhos de países como os EUA e o Canadá. Tradicionais produtores de animação, acabam sendo mais sedutores e baratos para a TV brasileira.

Exibido no Brasil e na América Latina pelo Discovery Kids, "Peixonauta" é a primeira série de animação brasileira na TV. "Peixonauta" é o programa mais visto por crianças na TV paga em seu horário principal de exibição (das 19h30 às 20h). Dobrou o ibope do Discovery Kids nessa faixa e é sintonizado por 41% a mais de espectadores do que a média da programação, recheada por fenômenos internacionais como "Backyardigans" e "Lazy Town".

Crianças cantam as músicas do desenho, de Paulo Tatit, e imitam as coreografias com palmas que os personagens fazem para abrir a POP, pérola colorida enviada pela agência Ostra com pistas dos mistérios a serem desvendados pelo peixe, todos relacionados à preservação ambiental. O Discovery assinou pré-contrato para comprar uma segunda temporada, com mais 52 episódios.

Luciano Huck, pai de dois meninos (5 e 2 anos), assinou parceria com a PinGuim para lançar a versão teatral do desenho em setembro, em São Paulo, e depois no Rio. Ele acaba de produzir com sucesso a peça do desenho inglês "Charlie & Lola", fenômeno infantil. No palco, "Peixonauta" e seus amigos deverão ser representados por bonecos da Pia Fraus, conceituada companhia teatral.

Em 2011, o peixe invade outra praia inexplorada no país. Ganha um filme para ser visto com óculos 3D. Com mescla de técnicas inédita no Brasil, o desenho, bidimensional na TV, manterá os personagens nesse formato no cinema, mas com cenários em três dimensões.

Desenho é exportado e vira brinquedo

Já exibido em países árabes, \"Peixonauta\" gera interesse nos EUA e no Canadá e inicia a venda de produtos licenciados

Educativa e ecologicamente correta, série foi pensada para carreira internacional; DVD da primeira temporada já vendeu 20 mil unidades

Kiko Mistrorigo, criador e produtor de \"Peixonauta\", transportou o peixe-herói para Cannes (França), onde se realizou a MipTV, principal feira de programas de televisão do mundo.
Ele pendurou o banner do \"Fishtronaut\" no estande da ABPI-TV (Associação Brasileira dos Produtores Independentes de TV) e saiu do evento com negociações adiantadas com canais dos EUA e do Canadá, os maiores exportadores de animação. No Brasil, Ricardo Rozzino, produtor-executivo da série, confirmou à Folha conversas com duas emissoras abertas interessadas no desenho.

\"Peixonauta\", além da veiculação no Brasil e na América Latina pelo Discovery Kids, está no ar em um canal aberto da Venezuela, em inglês para 23 países árabes, em um canal fechado da Turquia e em árabe para toda a rede Al Jazira.

O projeto, conta a produtora e criadora Célia Catunda, deu os primeiros passos em 2004, já mirando a carreira internacional. \"é a única forma de viabilizar financeiramente uma série de animação\", diz.

O peixe é temperado com todos os ingredientes que agradam compradores estrangeiros: é educativo, política e ecologicamente correto. Em todos os episódios, o agente secreto peixonauta precisa desvendar um caso, sempre algo que está prejudicando a natureza.

Enquanto canais e anunciantes se interessam pelo marketing da ecologia, as crianças, em qualquer parte do mundo, se ligam no mistério e na aventura que envolvem os roteiros. Conselhos de uma produtora canadense acostumada à comercialização internacional de animação ajudaram os criadores no início do projeto. \"Aprendemos a ter uma visão universal e a evitar elementos muito regionais\", explica Célia.

A série, em princípio, tinha como personagem central, além do peixe, apenas a garota Marina, mas aí veio outra dica de ouro. \"Criamos o macaco Zico. Além de dar fôlego para mais histórias, teríamos um personagem para licenciamento de produtos para meninos, já que a Marina seria mais para meninas\", conta Célia.

Os primeiros brinquedos do \"Peixonauta\" foram lançados na semana passada e chegarão às lojas neste semestre. Os DVDs da primeira temporada venderam 20 mil unidades até dezembro, e a série também terá livros, da Melhoramentos.

Incentivo à produção
A Discovery proíbe parceiros de divulgar investimentos, mas é dado público que a Ancine (Agência Nacional de Cinema) liberou a captação de R$ 3,3 milhões por meio de leis que dão incentivo fiscal a quem investe em produção nacional. Desse montante, a Folha apurou que o próprio canal investiu a menor parte, R$ 568 mil, e o restante veio de uma empresa alimentícia e do BNDES, que liberou também um financiamento (ainda não pago pela produtora) de mais R$ 1 milhão. (LAURA MATTOS)

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