sexta-feira, 16 de outubro de 2009

UMA VIAGEM PELOS QUADRINHOS DE GUY DESLILE
















Foto: Nathália Turcheti
Belo Horizonte foi palco de mais uma edição do seu já tradicional Festival Internacional de Quadrinhos. De 06 a 12 de outubro o Palácio das Artes, no Centro de Belo Horizonte recebeu mais de 100.000 visitantes em uma serie de debates, lançamento de livros, encontros, desenhos, mostras de animações, imprensa internacional, muitos convidados estrangeiros e uma grande programação dedicada ao ano da França no Brasil.

Um dos convidados foi o canadense Guy Deslile que abriu a serie de debates na Sala Juvenil Dias falando sobre animação e cinema, junto com Lancast do Rio Grande do Sul e Sávio Leite, diretor da MUMIA – Mostra Udigrudi Mundial de Animação. Guy Delisle estudou animação em Toronto e trabalhou em vários estúdios espalhados pelo globo: Canadá, França, Alemanha, China e Coreia do Norte. Foi durante seu trabalho na Ásia que ele escreveu, e posteriormente desenhou, seus primeiros diários de viagem narrando suas experiências e aventuras na China e na Coreia do Norte: SHENZHEN e PYONGYANG. Atualmente ele está em Israel, para onde foi acompanhando sua mulher, que está trabalhando na MSF naquele país.

Vale dizer que os livros de Guy Deslile são uma lição de humor e de tolerância. Uma forma de lidar com a diversidade e adversidade ao mesmo tempo. Trabalhando em países exóticos como a Birmânia, Coréia do Norte e China. Em Belo Horizonte Guy Deslile desfilou uma paciência sem limites autografando muitos livros com desenhos que demoravam longos minutos sendo feitos.

Em PYONGYANG (192 paginas) Delisle traça um retrato irônico e crítico da Coréia do Norte, apresentando seu testemunho único do país, dos habitantes, dos costumes, da situação de expatriado e do regime totalitário de Kim Jong-Il, a única dinastia comunista do mundo. Com a companhia constante e obrigatória de um guia e um tradutor, ele percorre a capital e arredores com seu olhar de artista, vendo além do que é cuidadosamente selecionado para ser apresentado aos raros visitantes estrangeiros.
Antes de viajar, Delisle, precisou assinar um contrato de confidencialidade de informações e só pôde publicar PYONGYANG quando a empresa francesa para a qual trabalhava faliu. A mesma já havia ameaçado processá-lo quando soube da intenção do autor de transformar os acontecimentos de sua estada na Coréia do Norte em um diário.
Uma visão ao mesmo tempo pessoal e informativa sobre a Coréia do Norte, onde os jornalistas não são bem-vindos, e nem Guy Delisle, depois desta graphic novel.

CRÔNICAS BIRMANESAS (272 paginas) é um retrato atemporal, incisivo e sensível de Myanmar, onde permaneceu por 14 meses, acompanhando sua mulher, que trabalha para a organização humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF). Ele narra sua estada no país, onde aos poucos foi descobrindo a realidade política, social, cultural, religiosa e de saúde desta nação asiática governada por uma junta militar, e onde a economia é dominada por grandes grupos industriais internacionais. Revistas e jornais censurados a golpes de tesouras, apagões diários em toda a cidade, regiões isoladas do resto do mundo pelos militares, internet monitorada pela censura, populações de vilas inteiras entregues à dependência de heroína e a líder de oposição, Aung San Suu Kyi, confinada em prisão domiciliar por mais de uma década. Esses temas são mesclados com outros mais leves, como o dia-a-dia com seu pequeno filho Louis, sua estada para meditação em um templo budista ou a alienação dos estrangeiros que ali habitam, formando um retrato do país, com muito humor, crítica e informações a que dificilmente teríamos acesso.

SHENZHEN (156 páginas) Um relato de viagem em história em quadrinhos, que traz as observações de Guy Delisle sobre a vida nessa fria cidade do sul da China, situada ao lado de Hong Kong e isolada do resto do país por cercas elétricas e vigiada por guardas armados.Trabalhando para uma empresa europeia de animação que terceiriza o trabalho para estúdios asiáticos, o autor narra sua experiência de vida no trabalho, na relação com as pessoas e também nos mostra os costumes do país. Shenzhen foi a primeira região da China a ser declarada Zona Econômica Especial, e é um dos locais onde grande parte da população chinesa almeja morar e trabalhar: em poucas décadas, a pequena vila de pescadores se transformou em uma megalópole de 14 milhões de habitantes. Este crescimento acelerado e dirigido, voltado exclusivamente para os negócios, tornou-a uma cidade fria e impessoal, o que é sentido na pele por Delisle. A solidão de expatriado é uma constante na vida do autor, que realiza experimentos e brincadeiras para tornar sua permanência de três meses na cidade um pouco mais suportável.


Saiba mais:
http://www.fiqbh.com.br/?tag=guy-delisle

http://www.zarabatana.com.br/p06.htm

http://www.guydelisle.com/index.html
http://www.guydelisle.com/WordPress/

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